A transferência designa o conjunto dos afetos ternos e hostis que ligam um paciente a seu terapeuta. Ao longo das sessões, o analisando pode amar seu analista, se sentir protegido por ele, algumas vezes rejeitá-lo, às vezes desejá-lo sexualmente, incluí-lo em suas fantasias ou sonhar com ele, e, ainda outras vezes, pode até mesmo se angustiar, temendo que o terapeuta se aborreça ou o abandone. Todos esses sentimentos exprimem a necessidade de dependência e nascem na esteira de uma fala íntima e regular.
Muitas vezes imaginei que o psicanalista fosse um atraidor de sentimentos, uma espécie de “cabide” com rosto humano que convida o paciente a satisfazer sua necessidade de dependência, a nele pendurar suas “roupas afetivas”. Outras vezes, veio-me a imagem divertida de que ele era como um “saco de pancadas” com o qual o analisando se exercitaria com golpes repetidos de amor e de ódio. Pois bem, a transferência é isto: apegar-se a um analista que se oferece como alvo do amor e de seus avatares.
E o profissional suporta isso?
É este o seu ofício! Na medida em que está bem instalado em sua função de terapeuta, pode receber os golpes sem ficar abalado. Estar bem instalado em sua função é nunca deixar de lembrar que não é amado ou detestado pelo que é, mas pelo que representa. Não é por nossa beleza ou espirituosidade que o paciente nos ama, nem por nossa maldade que nos odeia. É claro que somos sensíveis às manifestações de simpatia e de antipatia, mas sabemos que são inspiradas pelo papel que assumimos, e não por nossa pessoa.
Allan Álvaro Júnior Santos tagliari
Nenhum comentário:
Postar um comentário