sábado, 29 de outubro de 2016

Uma Nova História da Música


Pois gênio era. Sua importância histórica é de primeira ordem, inclusive para a solução de um dos mais graves problemas da música barroca: de maneira assistemática, intuitiva, Scarlatti já se mantém dentro dos limites das tonalidades modernas e da separação rigorosa entre tom maior e tom menor. Antecipa os sistemas do Cravo bem Temperado, de Bach, e do Traité â'harmonie, de Rameau. Mas de sua Obra, assim como da dos seus discípulos, só sobrevivem os pequenos trechos que os editores italianos editaram e editam como Arie antiche, para o uso no ensino e no concerto.

Ninguém teria, então, previsto que estava reservado destino melhor ao uso do mesmo estilo operístico na música sacra e, por outro lado, na opera buffa ou cômica. Naquela, será introduzido por Durante. Aos dois gêneros está ligado o nome do seu discípulo, Giovanni Battista Pergolese (1710-1736) (Edição das Obras p o r F. Caffarelli, 1939 e seguintes. G. Radiciotti, Giovanni Battista Pergolese, 2.a ed„ Roma, 1931).

A primeira opera buffa foi o Trionfo d'onore (1718), de Alessandro Scarlatti. Mas ainda é "cômica" no sentido da Comedia de capa y espada espanhola. Só a Serva padrona de Pergolese é ópera autenticamente italiana e vivamente cômica. Mas seu autor foi homem triste.

A lenda tem desfigurado, incrivelmente, a biografia de Pergolese. Sua morte prematura, com 26 anos de idade, teria sido causada por veneno. Por quê? Obra de um rival ciumento, porque o jovem maestro, belo como um anjo, teria sido conquistador terrível. Outros contemporâneos afirmam que teria sido repulsivamente feio e aleijado. Não é possível esclarecer essas lendas todas; nem é necessário. Sabemos que Pergolese foi discípulo de Durante no Conservatorio dei Poveri em Nápoles; que suas primeiras obras tinham pouco sucesso; que também foi friamente recebida sua opera seria II prigioner superbo (1733); que o compositor tinha escrito, conforme uso napolitano, umas cenas cômicas para serem representadas durante os intervalos daquela ''grande" ópera; e que esse intermezzo teve vivo sucesso: foi La Serva padrona. Depois: que escreveu para a irmandade dos Cavalieri delia Vergine dc'dolori o Stabat Mater; que, nesse ano de 1736, já estava gravemente tuberculoso, retirando-se para um convento em Pozzuoli, onde morreu, logo depois de ter escrito as últimas notas do seu Salve Regina.

Esse Salve Regina, que foi recentemente gravado em disco, é música quase fúnebre, de devoção elegíaca, para lazzaroni napolitanos e suas mulheres e filhos, gente esfarrapada e no entanto feliz em sua fé simples. Uma grande elegia religiosa, em estilo mediterrâneo, também é o célebre Stabat Mater. Obra até hoje geralmente conhecida e muito executada. E com razão. Pode parecer-nos sentimental, de pouca profundidade emocional. Mas é de intensa inspiração lírica. Certo trecho, o "Quando corpus morietur,fac ut animae donetur Paradisi gloria", é de beleza mozartiana. O Stabat de Pergolese deve sua fama aos músicos e musicólogos alemães do século XVIII, muito sentimentais e cheios de saudade do Sul mediterrâneo que imaginavam como um paraíso de beleza e inocência: assim elogiaram a obra os Johann Adam Miller, Wieland, Reichardt. Mas também houve opinião diferente. Dois conhecedores como Forkel e Rochlitz deram a preferência ao SLabat Mater (1707) de Emmanuele de A storga (1680-1757) (H. Volkmann, Emmanuele d'Astorga, 2 vols., Leipzig, 1911-1919), de maior expressividade dramática e superior arte polifônica. No Stabat de Pergolese censuraram a "leviandade" melódica de um trecho como "Inflammatus et accensus", que lembra irresistivelmente a verve rítmica da ópera-cômica.

Allan Álvaro Júnior Santos tagliari

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